segunda-feira, 11 de abril de 2011

EXPRESSÃO: "TE VEJO"

TE VEJO
*Peter Senge
Entre algumas tribos ao norte da África do Sul, a saudação mais comum, equivalente ao nosso popular “olá”, é a expressão sawa bona. Literalmente significa, “Te vejo”. Sendo um membro da tribo, você poderia responder dizendo sikhona, “Estou aqui”. A ordem da troca é importante: até você me ver, eu não existo. É como se, ao me ver, você me fizesse existir.
Esse significado, implícito na língua, faz parte do espírito de ubuntu, uma disposição de espírito que prevalece entre os nativos da África abaixo do Saara. A palavra ubuntu provém de um ditado popular do povo zulu que traduz-se literalmente como: “uma pessoa é uma pessoa por causa de outras pessoas”. Se você cresce com essa perspectiva, sua identidade baseia-se no fato de que “se você é visto as pessoas em sua volta lhe respeitam e reconhecem como uma pessoa.”
Durante os últimos anos na África do Sul, muitas empresas começaram a empregar gerentes que foram criados nas regiões tribais. A ética ubuntu muitas vezes se choca sutilmente com a cultura dessas empresas. Num escritório, por exemplo, é perfeitamente normal passar por alguém no saguão e, enquanto distraído, não cumprimentá-lo. Sob a ética ubuntu, isso seria pior do que um sinal de desrespeito; indicaria que você achava que essa pessoa não existia. Não muito tempo atrás, um consultor interno ficou visivelmente contrariado após uma reunião onde nada demais pareceu acontecer. Quando um projeto no qual ele havia tido um papel importante foi submetido à discussão, sua participação não foi mencionada ou reconhecida. Perguntado mais tarde porque isso o aborrecia tanto, ele respondeu: “Você não entende. Quando eles falaram acerca do projeto, eles não disseram meu nome. Eles não me tornaram uma pessoa.”
Texto adaptado.
* SENGE, Peter. A Quinta Disciplina, Caderno de Campo, estratégias e ferramentas para construir uma organização que aprende. Rio de janeiro: Qualitymark, 1995.
Seguindo esta mesma linha, lembro de uma experiência que foi realizada por um professor em uma universidade federal. Ele vivenciou durante meses o papel de faxineiro da faculdade. Todos os dias, por determinado horário, colocava o uniforme e limpava os corredores, retirava o lixo, varria o chão. Ele relata que todos os dias seus colegas professores, seus superiores e seus alunos passavam por ele, mas não o cumprimentavam. Sabe por quê? Simplesmente porque não o viam! Na verdade, eles viam o faxineiro, ou melhor: um faxineiro. Ele disse que alguns ainda lhe davam "bom dia", ao que ele respondia. Mas o ato era tão mecânico, que realmente não "viam" quem estava dentro do uniforme.

Em sua conclusão, ele disse foi uma experiência terrível. É como se lhe houvessem retirado a identidade. Mas que bom que ele tinha uma. Pois ele pôde, enfim, voltar à sua vida real, porque algumas pessoas como os faxineiros de verdade não têm essa escolha. Essa vida de "não ser visto" é a vida real para eles.

Temos acompanhado a tragédia que aconteceu na escola em Realengo. Acho que esse sofrimento, de não ser visto, impingido por anos é que cria "monstros". Não foi uma pessoa que matou aquelas crianças. Foi toda uma sociedade, todo um modo de vida que gerou um assassino. Todos somos responsáveis.

Estão dizendo que o Wellington foi motivado por extremismo religioso. Outros já dizem que se trata de um terrorista. Alguns defendem que é uma mente doentia. De qualquer forma fez isso para chamar atenção. Se serve de algum consolo, ele não conseguiu o objetivo. Até hoje, ninguém foi realizar o reconhecimento do corpo, e, se isso não ocorrer será enterrado como indigente. Ou seja, até depois de morto "não foi visto".

Não estou defendendo o assassino ou o que ele fez, que sem sombra de dúvida foi uma das coisas mais horríveis que já vi. O que estou dizendo é que foi preciso que algo tão ruim acontecesse para que percebêssemos (se é que isso ocorreu) que precisamos prestar atenção uns aos outros.

Se ele é um monstro, um louco ou um doente, eu não sei. O que sei é que ele é fruto da nossa sociedade. Dói ter que admitir isso. Mas, quantos monstros ainda vamos criar?

Vamos praticar o "te vejo". Valorize as pessoas. Imagine o "efeito borboleta" de uma gentileza?

Comentem!  

3 comentários:

  1. olá querida
    quero te dizer que: ESTOU TE VENDO E VOCÊ EXISTE! nem que seja no meu imaginário, hahaha
    adorei voce ter um blog também.
    deixe comentário no meu, faça uma pergunta, com certeza uma questão respondida servirá para muitas pessoas http://tirateimaempsicologia.blogspot.com
    continue escrevendo
    bjs

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  2. excelente. Se fosse falar pautada neste texto, TE VEJO, conduzindo professores a uma refexão, o que diria???Como faria a abordagem????OBRIGADO E PARABÉNS.

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